O Esmero na Rima
Antonio Augusto de Assis
Quem já participou de comissões julgadoras sabe o quanto dói ter que diminuir a nota de uma boa trova só porque apresenta algum problema com relação à rima. Por essa e mais outras, parece válido sugerir uma pensadinha no assunto. Sobretudo ao produzir trovas para concursos, e até que se estabeleça um consenso (incluindo Portugal), seria razoável evitar rimas polêmicas, tais como: a) as chamadas ―imperfeitas‖: chapéu-valeu, bela estrela, invejo-desejo, velha-abelha, ideia-aveia, qualquer-conhecer, acomode-pôde , adores-amores, melhor-valor, céu-mel, mingau-banal, alma-trauma, paz-mais, boca-louca, nós-sóis, partiu-gentil, viu-frio; b) as rimas com palavras derivadas: ter-conter, pôr e por, crer-descrer, tempo-contratempo; c) as rimas homófonas, em que a vogal tônica seja a mesma – e com o mesmo timbre – nos quatro versos (sem que haja sons internos fortemente contrastantes), como nestes exemplos inventados: 01. Moda nova quando nasce já se espalha pela praia; porém logo ela desfaz-se se outra moda entra na raia. 02. Tenho uma rede e uma esteira no meu rancho de sapê; e uma roseira faceira que plantei para você... 03. Fiz que fiz, fiz que não fiz, fiz do jeito que farias. Se o que fiz te faz feliz, faço assim todos os dias!
Alguns podem até achar que essas coisinhas não tenham muito a ver com a qualidade dos versos. Mas sempre que possível é bom evitar. Quem consegue compor uma bela trova pode esmerar-se um pouco mais também na rima.
Fonte: Feldmann, José - Florilégio de Trovas – n. 24 – setembro de 2018 -p.20