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Figuras de Linguagem na Trova

Maria Thereza Cavalheiro

A trova se valoriza pelo achado, pelo inusitado – algo que surpreende no momento da criação. É uma nova forma de dizer o que já foi mil vezes dito; uma ideia diferente para expressar alguma coisa comum. Pode ser um jogo de palavras, uma metáfora, uma rima original. O achado é uma descoberta.

Como elementos de valorização da trova, merecem atenção especial as figuras de estilo, recursos que dão ao verso maior colorido e fulgor. Elas são muitas e se dividem em figuras de palavras (ou tropos), figuras de pensamento e figuras de construção.

Entre as figuras de palavras, temos a metáfora (e suas modalidades, como personificação, símbolo, sinestesia),

  • a comparação e a metonímia.

Entre as figuras de pensamento, estão:

  • a antítese ou contraste,

  • o paradoxo,

  • o eufemismo,

  • o trocadilho.

Entre as de construção temos:

  • a onomatopeia,

  • a aliteração,

  • a elipse,

  • a reticência,

  • a repetição.

Muitas vezes esses termos se confundem e simplificadamente são chamados de figuras, imagens ou metáforas em sentido lato.

Na metáfora, em sentido estrito, a imagem se revela por si só, de modo implícito. Sem nenhum suporte para sua expressão, o que a torna mais viva e dinâmica que na comparação. Assim:

 

Muitas vezes imagino,

nos meus dias desolados,

que o meu coração é um sino

dobrando sempre a Finados.

Belmiro Braga

 

Faz contraste com o céu

o pinheiro verdejante;

é uma taça erguida ao léu

em louvor do caminhante!

Mafalda de Sotti Lopes

 

No ocaso, em tarde sombria,

que à saudade nos conduz,

a sombra é o pranto do dia ,

chorando a ausência de luz.

Ferreira Nobre

 

Disse-me a fonte na mata,

nos ternos cânticos seus:

- O Poeta é a flauta de prata,

o Poema - o sopro de Deus!

Leonardo Henke

 

Na comparação ou símile, a imagem se revela com auxílio das palavras como, tal como, tal qual, qual, parece, e, por ser explícita, perde em geral um pouco de sua força. Eis um exemplo:

 

Meu coração, quando o ninas

com tuas juras de amor,

parece um templo em ruínas

todo coberto de flor!

Lilinha Fernandes

 

Personificação, que também é denominada prosopopeia, animismo e animização, é a figura de linguagem em que seres inanimados ou irracionais agem como se fossem seres humanos:

 

Ao sol, as rosas vermelhas,

sensuais, tontas de luz,

à carícia das abelhas,

vão expondo os colos nus!

Joubert de Araújo Silva

 

Símbolo é quando se toma, sistematicamente, uma coisa, de valorização universal, por outra, a exemplo de cruz, que pode simbolizar o Cristianismo, a dor, a morte; ou regaço, que pode referir-se a colo materno:

 

A vida é apenas um traço

com jogos de sombra e luz,

que partindo de um regaço

vai terminar numa cruz.

Vera Vargas

 

Sinestesia é quando se confundem os planos sensoriais, usando-se de um sentido por outro, para um determinado efeito. Como nos versos:

Vê-se o canto da araponga.

Ouve-se a luz da manhã.

Enxerga-lhe a cor da voz.

Metonímia é quando se diz uma coisa por outra, o efeito pela causa e vice-versa:

cãs, por velhice;

primaveras, por anos;

suor, por trabalho.

É bastante comum na trova e a enriquece sobremaneira:

As cãs mostravam o tempo.

Na primavera da vida.

Suores de muitos anos.

Na antítese ou contraste, juntam-se ideias opostas pelo sentido:

Trouxe-me grande valia

a verdade que aprendi:

toda pessoa vazia

é sempre cheia de si...

Delmar Barrão

 

No paradoxo, as ideias são contraditórias, a sugerir erro, mas podendo conter uma verdade:

 

Meu olhar vago relata,

numa tristeza incontida,

que o grande amor que me mata

é o mesmo que me dá vida.

Leopoldina Dias Saraiva

 

Quando preso num recinto,

desejo livres espaços.

Porém, mais livre me sinto

quando preso nos teus braços.

Mário Barreto França

O eufemismo é uma maneira de suavizar uma realidade desagradável, é quando se diz uma coisa por outra menos contundente: Foi para o mundo estelar - faleceu.

No trocadilho, há palavras de sons semelhantes e sentido aparentemente dúbio, às vezes com o intuito de fazer graça: Foste uma flor de papel / fazendo papel de flor.

Na elipse, um ou mais termos ficam subentendidos na frase: Rosa é flor, também mulher.

Na reticência, há uma suspensão propositada do pensamento: Era um amor sem controle...

Repetição é quando se usa uma expressão por mais de uma vez, para o efeito de realce: Branca a nuvem, branca a paz.

A onomatopeia e a aliteração, termos que muitas vezes se confundem, podem trazer muita originalidade à trova.

Aliteração é a repetição de fonemas iguais ou parecidos para, através do som, sugerir uma ideia: Onda redonda assomou.

A aliteração aproxima-se muito da onomatopeia, que, em sentido estrito, é quando um único vocábulo dá a ideia acústica: o marulho das ondas,/o farfalhar das ramagens.

Em sentido lato, a onomatopeia refere-se a todos os processos e efeitos que levem a sugerir um determinado ruído. Bate o vento, o vento bate.

A assibilização (sons sibilantes, excesso de s e z), que normalmente se condena, pode também servir à aliteração: Zunem com asas de brisa.

Várias imagens podem aparecer com frequência em uma mesma trova, e seus nomes também muitas vezes se confundem.

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Fonte: CAVALHEIRO, Maria Thereza. Trovas para refletir. SP: Ed. do Autor, 2009.

Endereço:

Rua Fernando Moreira, 370. Centro. CEP 80410.120. Curitiba-Paraná

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