As três peneiras nas trovas de Humor
Elisabeth Souza Cruz
De vez em quando, circula nas redes sociais uma mensagem cujo teor é atribuído ao filósofo Sócrates que, em resumo, consiste em se usar três peneiras antes de fazermos algum comentário sobre algo ou alguém. Primeiro, passa-se o comentário ante a peneira da “Verdade”. Caso o fato seja verdadeiro, precisamos passar o nosso comentário pela peneira da “Bondade”, indagando-nos se é alguma coisa boa, se vai melhorar o ambiente ao nosso redor. Mesmo assim, ainda nos resta passar pela peneira da “Necessidade”, momento em que faremos algumas perguntas ao nosso bom-senso: o que eu vou dizer precisa mesmo ser dito? É algo que eu gostaria que falassem sobre a minha pessoa? Essa terceira peneira até dispensa as duas primeiras e basta para a nossa reflexão.
Tenho pensado muito nisso em termos de trovas, principalmente na categoria das humorísticas. Eu tinha um padrão de medida muito interessante, pois, se eu não tivesse “coragem” de mostrar uma trova para meu pai, era sinal de que não deveria passá-la adiante, para os concursos. Mas como estabelecer se é algo bom ou ruim. Para isso, a metáfora das peneiras pode nos valer uma boa orientação.
Este ano mesmo, no tema “confusão”, eu fiz uma trova com um trocadilho que envolvia o nome de uma escritora famosa, já falecida, pois toda a vez que eu via o nome dela, me vinha a ideia do trocadilho – coisa que eu adoro fazer. Contudo, a “peneira da necessidade”, bateu mais forte e me fez refletir ante as perguntas da minha consciência: - eu preciso fazer isso com um nome que é tão importante na literatura? É justo que eu use o nome de alguém que é reverenciada nos mais altos ministérios literários? A pessoa está aqui para se defender do constrangimento? Com todas as negativas, eu engavetei a trova.
A bem da verdade, em se tratando de humor, está ficando cada vez mais estreito o campo de colheita de ideias. Quando pego livros antigos até de Jogos Florais de Nova Friburgo, percebo que algumas trovas não passariam mais nas peneiras da seleção. E isso porque muitos conceitos mudaram e não se brinca mais com certas coisas que antes eram motivos de chacotas. Existe hoje o dedo em riste do bom senso apontando e sinalizando para os perigos das nossas brincadeiras, muitas vezes, ingênuas.
A trova é a descrição de uma cena que nos leva a imaginar fatos e lugares, os mais diversos e distantes. Para a boa trova humorística, publicável, nesses tempos modernos, quando temos que ser engraçados e, ao mesmo tempo, polidos, é bom criamos encenações que despertem o riso fácil, com aquela graça brejeira, mas sem afrontas.
Alguém poderá dizer: - isso é muito puritanismo! Entretanto, não custa atentarmos para o enunciado de nossas ideias. Será que, involuntariamente, a graça que inserimos em nossa trova não é o sofrimento de alguém? Na atualidade, além da métrica de sete sílabas, a mais correta medida de uma trova de humor há de ser a sensatez.